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Verdades indigestas da educação

Você está com a sensação de que seu filho não está aprendendo nada nesta quarentena?

Ter seu filho em casa, sob o seu olhar e longe dos esquemas escolares, pode ter revelado algumas verdades indigestas.

Este texto é o 3º as série: diga não ao “velho normal” das escolas.

Três causos verdadeiros para ilustrar:

1º CAUSO

Era uma escola de educação infantil, que tinha uma proposta linda baseada em artes, sustentabilidade e meio ambiente. Ela adotava um sistema de apostila de uma grande rede.

Na prática, tudo que as crianças preenchiam na apostila era copiado da lousa e caso a criança não conseguisse copiar, a prof segurava a mãozinha da criança e fazia “junto”, pois a apostila precisava ser preenchida.

Todos os trabalhos artísticos eram produzidos em série, feito linha de montagem pela professora, que chamava criança por criança, segurava seu dedinho e fazia o movimento com a tinta dedo ou com a cola colorida.

Todos os projetos eram terrivelmente padronizados, mas alegravam os pais, que recebiam um trabalho bem bonitinho e não percebiam que não havia nenhuma originalidade na produção.

2º CAUSO

A escola recebeu um aluno novo de 8 anos, que veio de uma famosa escola tradicional, com uma metodologia “inovadora” e amplamente adotada no Brasil.

Suas apostilas estavam completamente preenchidas de forma correta e seus pais estavam satisfeitos com a evolução da aprendizagem de seu filho.

Ao retirar a apostila e a presença da antiga professora que devia fazer tudo por esse garotinho, a nova escola detectou que o menino estava estacionado na fase silábica e não lia e nem escrevia nada além de seu próprio nome.

3º CAUSO

O professor, uma semana antes da prova, resolve fazer uma revisão e entrega para os alunos um resumo do conteúdo para ser estudado para a prova.

No dia da prova, ele permite fazer a consulta ao resumo. 100% das respostas das perguntas da prova estão naquele resumo de uma página e meia.

O resultado é uma amostragem incrível de “aprendizagem”, através das boas notas.

Paulo Freire combateu tanto 

a “educação bancária” 

e o “educandos depositários”.

Enquanto o sistema educacional clama por uma transformação em sua base estrutural, o que mais vejo é “especialista em inovação na educação”, propondo a perpetuação do velho sistema, mas com o uso de novas ferramentas, como aulas lúdicas, motivacionais, com storytelling, muito uso de tecnologia e conteúdos gamificados. Essas ferramentas, que são muito boas, enquanto usadas como apoio para a ensinagem, não passam de maquiagem frívola.

O necessário é a compreensão de que precisamos parar de dar aulas, parar de acreditar na ensinagem, parar de fragmentar os saberes e parar de seriar.

Precisamos começar a entender os processos de aprendizagem, que estão muito mais conectados com a curiosidade do aluno, o conhecimento prévio, o ‘colocar a mão na massa’ em projetos de interesse do aluno e vincular esse “saber fazer” com teorias.

Lancei um desafio faz alguns anos e até hoje, não obtive resposta. Adoraria conhecer 3 grandes teóricos educadores que defendam: dar aula, ensinar conteúdos fragmentados, seriação (linha de montagem) e educação bancária com alunos depositários.

Enquanto não encontro a defesa desse sistema educacional baseado em aulas repletas de ensinagem de conteúdos fragmentados, fico com as referências de Célestin Freinet, Edgar Morin, Henri Wallon, Carl Rogers, José Pacheco, Lev Vygotsky, Lauro de Oliveira Lima, Anísio Teixeira, Tião Rocha, Darcy Ribeiro , Eurípedes Barsanulfo, Florestan Fernandes e Viviane Mosé.

Seu filho realmente aprendia quando frequentava a escola, ou ele apresentava boas notas?

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